Há uns anos
fiz uma investigação em várias escolas secundárias de Lisboa. Depois de
ter analisado os problemas dos jovens que tinham feito tentativas de
suicídio, quis saber o que pensavam sobre o tema alunos que nunca
tivessem ido a uma consulta de Psiquiatria. Numa das escolas conheci uma
professora do Conselho Executivo com quem travei um inesquecível
diálogo.
Depois de
lhe explicar o objetivo do estudo, pretendi falar com os estudantes.
Respondeu-me que não valia a pena, poderia falar com muitos alunos na
minha consulta hospitalar. Disse-lhe que queria falar com jovens…
normais. Então encostou-se na cadeira, segurou os óculos de lentes
grossas e disse-me: "NORMAIS?! Normais aqui nesta escola? Não existem!"
É preciso
esclarecer pais e professores que a maioria dos jovens é normal, isto é,
atravessa a adolescência sem perturbações emocionais graves. Em termos
simples, direi que um adolescente normal tem dificuldades transitórias
nas diversas tarefas de que tenho falado: relação com os pais e com os
companheiros e questões ligadas ao amor e à sexualidade, mas não fica
bloqueado no seu caminho para a idade adulta.
Quer dizer, um adolescente normal pode ter
algumas zangas com os pais, disputas com os seus pares ou alguma ruptura
afetiva que o perturbe, mas progride no sentido da autonomia e da
formação de valores. Um adolescente patológico insulta os progenitores,
não passa nos estudos, consome drogas, não namora, nem sai à noite, faz
tentativas de suicídio ou foge de casa.
Os professores são agentes privilegiados na
detenção de jovens em risco. Um professor atento pode arrumar lentamente
os seus papéis a ver se alguém quer falar com ele no fim da aula. Um
professor disponível marca um encontro de 10 minutos se pressente que o
aluno tem alguma coisa para lhe dizer, mas não trai a sua confiança se a
mãe lá aparece a perguntar o que se passa.
Tudo isto é
difícil quando as escolas são em regras mastodontes degradados ou
edifícios prefabricados de má qualidade, onde alunos em excesso andam de
um lado para o outro como quem vai a um emprego aos 50 anos. Os livros
de texto falam de matérias estranhas como floresta caducaria, mas não
ensinam as capitais da Europa.
Os
professores são mal pagos e às vezes estão lá porque do mal o menos.
Ora, o professor pode e deve ser decisivo para estimular a criatividade
do aluno ou ajudá-lo num momento difícil. Para isso é preciso que medite
na sua atividade e, apesar das condições difíceis, tente promover
alguma mudança.
Sem arrogância, aqui vão algumas sugestões para professores de adolescentes:
1 – No
princípio do ano escolar, promovam o diálogo com os alunos sobre o que
vai ser o trabalho da disciplina. Verifique as expectativas, doseie o
entusiasmo de alguns e estimule a maioria.
2 – Mantenha os alunos ativos durante todo o ano. Elabore questões e peça respostas. Trabalhe por problemas e objetivos.
3 – Não fale
na importância da participação nas aulas se no fim do período tenciona
dar a nota correspondente à média dos testes, quer o aluno participe ou
não.
4 – Dê poucos trabalhos de casa; grande parte deles não são feitos ou são copiados antes da aula.
5 – Promova
visitas de estudo, tendo em conta as sugestões dos alunos. Não os leve
àquilo que acha importante para si mas que não tem nada a ver com eles.
6 – Seja firme em questões de disciplina desde o início. Se não atua rapidamente nesta área, não conseguirá ensinar.
7 – Não vá
tomar cafés com os alunos, nem os convide para discotecas. Ensinar não é
seduzir (vá apenas com eles se for convidado por um grande grupo. Mesmo
assim, reflita).
Daniel Sampaio
A Cinza do Tempo
Lisboa, Ed. Caminho, 1997
(adaptação)