Psicologia

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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O significado dos sonhos por Carl Jung.

Pensar que os sonhos possuem significado é uma tese ousada. Na Antiguidade, muitos povos pensavam que o sonho tinha significado e alguns sujeitos especiais, como profetas ou sacerdotes, tinham a habilidade de transcrever a mensagem em uma linguagem compreensível. Com o surgimento da ciência moderna, a nossa cultura ocidental foi cada vez mais desvalorizando esta tese. O sonho se transformou em uma banalidade, em um absurdo, em algo sem lógica e sem sentido.

Apenas com a obra de Freud, A Interpretação dos Sonhos, os sonhos voltaram a ganhar importância no conhecimento que cada sujeito tem de si mesmo. Ainda assim, muitas e muitas pessoas continuam acreditando que os sonhos são destituídos de sentido.

Para Jung, “O sonho é, conforme sabem, um fenômeno natural. Não é fruto de uma intenção. Não podemos explicá-lo a partir de uma psicologia que provém da consciência. Trata-se de um modo específico de funcionamento que não depende da vontade e do desejo, da intenção ou do objetivo do Eu Humano. É um acontecimento não intencional, assim como todos os acontecimentos da natureza” (JUNG, 2011, p. 16)

Certas pessoas também descartam a relevância dos sonhos pois dizem que não conseguem se lembrar do que sonham e chegam até duvidar de que sonham. A verdade, cientificamente comprovada, é de que todos nós sonhamos. Apenas não conseguimos nos lembrar de todos os sonhos ou conseguimos e, ao longo do dia, vamos nos esquecendo, com a continuidade da atividade consciente.

Jung, ao longo de sua carreira, encontrou 4 tipos de significados para os sonhos:

Apesar de longa, a citação abaixo é fundamental para entendermos a sua concepção a respeito da vida onírica:

1) O sonho representa a reação inconsciente frente a uma situação consciente. Uma determinada situação consciente é seguida por uma reação do inconsciente na forma de um sonho, trazendo conteúdos que – de modo complementar ou compensatório – apontam claramente para uma impressão que se obteve durante o dia. É evidente que o sonho jamais teria se formado na ausência de determinada impressão obtida no dia anterior.

2) O sonho representa uma situação que é fruto de um conflito entre consciência e inconsciente. Nesse caso, não existe uma situação consciente que pode, em maior ou menor grau, ser responsabilizada pelo mesmo, e sim, lidamos aqui com certa espontaneidade do inconsciente. O inconsciente acrescenta a uma determinada situação consciente uma outra situação, a qual difere de tal modo da situação consciente que se forma um conflito entre ambas.

3) O sonho representa a tendência do inconsciente cujo objetivo é uma modificação da atitude consciente. Nesse caso, a posição oposta assumida pelo inconsciente é mais forte do que a posição consciente: o sonho representa um declive que se origina no inconsciente e vai em direção à consciência. Trata-se de sonhos especialmente significativos. Podem transformar alguém que assume uma determinada atitude por inteiro.

4) O sonho representa processos inconscientes que não evidenciam uma relação com a situação consciente. Sonhos dessa espécie são muito peculiares e, devido ao seu caráter estranho, não podem ser interpretados facilmente. O sonhador se admira tanto por sonhar algo assim, pois nem mesmo uma relação condicional pode ser estabelecida. Trata-se de um produto espontâneo do inconsciente que porta toda a atividade e é altamente significativo. São sonhos imponentes. Sonhos que os primitivos designam de “sonhos grandes”. São de natureza oracular, “somnia a deo missa” (sonhos enviados por Deus). São experimentados como uma iluminação (JUNG, 2011, p. 18).

Portanto, podemos falar de 4 tipos de sonhos, de acordo com a relação consciente e inconsciente. O primeiro sonho indica um tipo de sonho tipicamente consciente, de um evento ou situação do dia anterior. O segundo advém de um conflito entre a posição consciente e a posição do inconsciente. O terceiro significa uma forma na qual determinados conteúdos inconscientes interferem na consciência, a fim de modificá-la. E, por sua vez, o quarto são os sonhos raros – chamados de “grandes sonhos” – e que servem de orientação para todo uma fase da personalidade. Incluem-se aqui os sonhos de infância e os sonhos decisivos.

5 possibilidades de origem dos sonhos:


1) Origem somática: eventos que ocorrem no interior do corpo e podem suscitar conteúdos na atividade onírica.

2) Eventos externos: como ruídos, frio ou calor, iluminação que podem ser percebidos inconscientemente e afetar o contexto do sonho.

3) Eventos psíquicos: eventos que podem ocorrer externamente e que afetam – ainda que de forma desconhecida – na mensagem do sonho. Jung cita dois exemplos. De uma criança que sonhou que anjos estavam levando o seu irmão e, quando acordou, o irmão havia falecido. E o segundo, no qual uma criança sonha que a mãe quer se matar e, acordando sobressaltada, encontra a mãe prestes a cometer suicídio.

4) Acontecimentos passados: memórias também podem servir de fonte para o que sonhamos, tanto acontecimentos próximos como remotos.

5) Acontecimentos futuros: eventos que ainda não aconteceram, mas que são pressentidos e aparecem nos sonhos. Lembro aqui de uma colega da minha pós que sonhou que um colega de trabalho estava entregando uma chave de um fusca amarelo para ela. Ela anotou o sonho e se esqueceu totalmente. 2 anos depois, ela comprou este fusca. Este é um exemplo simples, mas descreve uma possibilidade para o surgimento dos sonhos que não é infrequente de acontecer, às vezes com um simbolismo maior.

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